19 Outubro 2019
Finalmente o Sínodo da Amazônia parece encaminhar em suas propostas do documento final dois dos temas que mais levantaram polêmica durante os meses prévios. Assim vem dos relatórios dos doze círculos menores que, depois de onze dias de trabalho, apresentaram hoje no Vaticano as suas primeiras propostas para levar à votação no próximo sábado, 26-10, que dará forma ao texto final, recolhendo as conclusões dos 20 dias de debate dos quase 250 participantes.
A reportagem é de Hernán Reyes Alcaide, publicada por Religión Digital, 18-10-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Assim, participantes do Sínodo dedicado à Amazônia que se desenvolve no Vaticano até 27 de outubro com mais de 250 pessoas reivindicaram que o evento possa dar lugar à instituição do diaconato para mulheres e a ordenação de homens casados.
Com respeito às reivindicações para a ordenação de homens casados com virtudes provadas em suas comunidades como resposta à falta de sacerdotes na região “os denominados viri probati”), um dos temas que mais se opõem os setores conservadores, já o apoio mais firme chegou de parte dos círculos em português.
Os círculos portugueses, protagonistas
O “Círculo Português B”, por exemplo, reivindicou diretamente que “se considerou necessária para a Pan-Amazônia a ordenação dos viri probati”.
O “Círculo Espanhol B”, da sua vez, deixou claro que “a proposta já encaminhada a pedir ao Santo Padre a possibilidade de conferir o Presbiterado a homens casados para a Amazônia, de modo excepcional, sob circunstâncias específicas e para alguns povos determinados, estabelecendo claramente as razões que o justificam”.
Diaconato feminino na região
A instauração do diaconato feminino na região, um tema que vem sendo de estudo por parte do Vaticano a ponto da criação de uma comissão que em dezembro de 2018, entregou suas conclusões ao Papa, também esteve entre os eixos das propostas.
“Chegou a hora desse novo rosto ministerial para a mulher, e que se aprofunda teologicamente a temática do diaconato da mulher, isso é uma reflexão que vai levar tempo, porém que já podemos somar a voz no contexto sinodal”, destacou a irmã Daniela Adriana Cannavina, capuchinha colombiana, ao apresentar hoje à imprensa os primeiros escritos dos círculos menores.
“Nesta igreja sinodal, que lugar tem a mulher? Esta mulher deve crescer e assumir responsavelmente certas pastorais”, agregou a religiosa em relação à discussão sobre o diaconato feminino.
Nesse tema, por exemplo, o denominado “Círculo Espanhol A” apontou que “se faz necessário que uma Igreja Sinodal a mulher assume responsabilidades pastorais e de direção, deve haver um reconhecimento da mulher na Igreja através da ministerialidade”.
O “Círculo Espanhol C”, sustentou que “dada a tradição da Igreja, é possível reconhecer as mulheres o acesso aos ministérios instituídos do laicato e do acolitado, assim como o diaconato permanente”.
“Enquanto a missão da mulher na Igreja se propõe instaurar um ministério oficial da mulher na Igreja”, destacou o “Círculo Espanhol D”.
“Rito Amazônico” e “pecados ecológicos”
Outros temas propostos pelos participantes foram da criação de um “rito amazônico” específico para a Igreja na região e a inclusão na teologia da categoria de “pecado ecológico” para denunciar as agressões à Terra.
O “Círculo Italiano B” foi o mais explícito em destacar a abertura ao “rito amazônico”, e pôs por escrito que elevará a proposta para o documento final.
“Para a Amazônia existe a proposta de uma estrutura de uma igreja local ao nível da unitaridade. Sempre dentro do processo de evangelização”, explicou à imprensa o presidente do Pontifício Conselho para Nova Evangelização, Rino Fisichella.
Sobre os pecados ecológicos, a religiosa colombiana apontou que “os pecados ecológicos estão profundamente à nossa vista. Pensemos nas expulsões de nossos irmãos indígenas, de seus territórios e na pobreza ocasionada por muitas multinacionais”.
“O pecado surge do comportamento do homem que se fecha frente a Deus e não quer acolhe uma dimensão dinâmica”, continuou Fisichella.
A ganância traz consigo o DNA do pecado
O bispo brasileiro de Roraima, Antonio da Silva, apontou que o “uso responsável dos bens da terra é virtuoso. O que nos leva à ganância traz consigo o DNA do pecado”.
Também a defesa do meio-ambiente ocupou um lugar preponderante nas propostas. Talvez uma das expressões mais enfáticas nessa direção foi a do “Círculo Espanhol B”: “As violências de todo tipo e, em especial contra a mulher e à irmã ‘Mãe-Terra’ requerem uma atenção especial”, destacaram.
Depois dos primeiros dias de trabalho, os participantes continuarão com as sessões de trabalho até que no próximo sábado, 26, ponham à votação a proposta do documento final que depois entregarão ao papa Francisco. De todos os modos, dos mais de 250 participantes, somente 183, todos homens, poderão votar na Assembleia, segundo informou o Vaticano.
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Sínodo Pan-Amazônico. Os círculos menores apresentaram seus primeiros escritos: apoio ao viri probati e ao diaconato feminino - Instituto Humanitas Unisinos - IHU